Abertura do III Congresso Internacional da REBRAC – Palavras dos organizadores

ABERTURA DO III CONGRESSO INTERNACIONAL DA REBRAC

LIVING (IL)LEGALITIES/VIVENDO (I)LEGALIDADES

COPENHAGUE, 19-20/10/2018

Palavras dos organizadores: Dr Georg Wink, Dr Derek Pardue, Dr Sara Brandellero

Dr Georg Wink:

Dear friends and colleagues, dear all,

My name is Georg Wink and I am professor of Brazilian Studies at this University as well as Director of the Centre of Latin American Studies.

On behalf of the Steering Committee I would like to give you a warm welcome to this Third REBRAC Conference about “Living Illegalities”.

First of all, let me ask if there is anybody in this room who does not understand Portuguese. Because if not, I would like to continue em vernáculo, já que este é um congresso de brasilianistas.

Antes de tudo, como todas e todos sabem muito bem, estamos a uma semana do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, muito provavelmente com efeitos draconianos sobre o futuro da maior parte da população. Já hoje, o Brasil, que tinha saído do mapa da fome em 2014, voltou a ter mais de 5% da sua população passando fome (dados do IBASE, desta semana). Neste novo contexto muito periclitante, até que poderia parecer que discorrer sobre práticas culturais e sociais, entre legalidades e ilegalidades, seria um pouco como discutir o sexo dos anjos, para usar uma expressão dos anos 1960.

Entretanto, acredito que não. Infelizmente, algumas das nossas zonas de ilegalidades estão em plena expansão, forçadamente, e tudo indica que os fenômenos, dois quais vamos tratar aqui hoje e amanhã, terão um peso ainda maior no futuro próximo – sobretudo para os que sofrem as consequências da sistemática demolição da legalidade do Estado Democrático de Direito que vem ocorrendo a todo vapor.

Como vocês sabem, demora muito mais organizar um congresso do que prender um ex-presidente da República. Por isto, queria também lembrar que a ideia deste congresso nasceu em maio de 2017, num congresso da Associação de Brasilianistas na Europa, na Universidade de Leiden, no qual estivemos presentes os três.

Tenho certeza absoluta que ninguém de nós, o mais pessimista que fôssemos, poderia ter imaginado a situação que o Brasil está vivendo hoje. Jair Messias Bolsonaro já tinha 15% das intenções de voto, mas Lula, ainda em liberdade, o dobro. Tudo bem que foi o mês do primeiro depoimento de Lula em Curitiba, considerado, pelos nossos colegas brasileiros, especialistas em direito e ciência política, uma farsa. Em maio de 2017 também já tinha saído a delação da Odebrecht, a delação “do fim do mundo”, vocês lembram, só que ninguém teria imaginado que levaria a este fim, com um extremista de direita (pelo menos na retórica) botando a mão na faixa presidencial. Se tivéssemos sabido tudo isto, provavelmente o enfoque deste congresso teria considerado um pouco mais o rumo político, o desrumo, a aberração do Brasil.

Muito obrigado por terem vindo a Copenhague, muito obrigado pela presença de todas e todos. Meus agradecimentos à Fundação Kirsten Schottländer pelo apoio financeiro, e a Embaixada do Brasil pelo apoio culinário. E minha imensa gratidão às minhas colegas Ana Vera e Allane Pedrotti que estão me dando a maior força na organização deste evento.

Vou passar a palavra aos meus co-organizadores e desejo a tod@s e todos um maravilhoso e instigante encontro.

Dr Sara Brandellero:

Bom dia a tod@s,

Vou falar em nome da rede REBRAC. Primeiramente, gostaria de agradecer a Georg Wink e Derek Pardue por organizar este congresso e apoiar a REBRAC com esta maravilhosa iniciativa. Também gostaria de agradecer o apoio da universidade de Copenhagen, o fundo Kisten Schottländer, centro de estudos da América Latina e a Embaixada do Brasil em Copenhague (que ofereceu o brinde que vamos curtir no final da tarde).

Refletindo brevemente sobre o percurso da REBRAC, temos uma história curta mas dinâmica. Stephanie Dennison, Tori Holmes e eu fundamos a REBRAC há quatro anos, enquanto participávamos da conferência da BRASA no King’s College London, em 2014. Ao mesmo tempo em que reconhecemos o valor e importância de associações maiores como a BRASA, sentimos então que era o momento certo para estabelecer uma rede mais focada nos estudos culturais brasileiros e que ajudaria a conectar os brasilianistas que trabalham com cultura em departamentos muitas vezes díspares e espalhados em toda a Europa. Planejamos numa rede que nos permitisse pensar o Brasil desde o ponto de vista cultural especificamente (e amplamente entedido), conectando brasilianistas que muitas vezes não conseguiam ter a chance de se encontrar em eventos acadêmicos maiores.

Desde nossa primeira reunião de brainstorming durante um jantar bem animado em 2014, realizamos dois congressos internacionais e reuniões gerais – a primeira em Londres, em setembro de 2015, seguida pela nossa conferência em Queen’s Belfast (organizada pela Tori Holmes) em novembro de 2016. Ficamos muito felizes por ter a oportunidade de inaugurar a nossa primeira conferência fora do Reino Unido aqui hoje, que demonstra o quanto crescemos em um período de tempo relativamente curto.

Atualmente, temos cerca de 60 membros inscritos na rede REBRAC. Temos um boletim mensal (graças ao trabalho duro da Tori!). Além de nossas próprias conferências, decidimos em nossa última reunião geral em 2016 que a REBRAC proporia painéis temáticos em conferências de outras associações.

No ano passado, Derek e eu organizamos uma mesa sobre ‘Cultura e Poder no Brasil Hoje’ na primeira conferência da ABRE (Associação de Brasilianistas da Europa) em Leiden (maio de 2017), e Stephanie Dennison organizou uma mesa temática sobre ‘Cordialidade e Intimidade na Cultura Contemporânea Brasileira’ na conferência da ABIL (Associação Britânica e Irlandesa de Lusitanistas) em Sheffield de 2017.

Dois volumes temáticos resultaram dessas colaborações da REBRAC:

1. Uma edição especial sobre ‘Cultura e Poder no Brasil de Hoje’, editada por Derek e por mim, saiu na revista Veredas (da Associação Internacional de Lusitanistas) em Agosto de 2018. A publicação, em acesso livre, inclui artigos sobre literatura brasileira, incluindo sobre a figura do migrante em Luiz Ruffato (Sara Brandellero), literatura marginal (Lucas de Oliveira), coletivo Anarkofunk (Luana Loria), música e resistência (David Treece), megaeventos e soft power (Fernanda Lima Rabelo), história e memória em Manhã cinzenta de Olney São Paulo (Antonia Cristina de Alencar Pires, Gustavo Tanus, Filipe Schettini), memes sobre Dilma Rousseff durante o ‘impeachment’ (Georg Wink).

A Stephanie Dennison organizou um volume temático sobre ‘Cordialidade e Intimidade na Cultura Brasileira Contemporânea’, que saiu agora na revista Journal of Iberian and Latin American Studies, Volume 24/3, de 2018.

O volume reflete sobre as mudanças que atualmente são testemunhadas nas relações sociais no Brasil e como elas estão sendo captadas na produção cultural. Os artigos deste volume enfocam a produção audiovisual, incluindo análises detalhadas de filmes brasileiros, novelas, minisséries e arte visual. Contribuintes para este volume são Tori Holmes, Jane-Marie Collins, Lucia Sá, Rachel Randall, Stephanie Dennison, Gui Perdigão e Alvaro Cruz. Muitos estão aqui hoje. Eles foram apoiados por Claire Williams e Lisa Shaw, que fizeram contribuições importantes para as discussões sobre este tópico.

Uma publicação está sendo planejada como resultado desta conferência em Copenhague. E temos a certeza de que haverá muitos outros projetos e colaborações que nascerão de nossos debates. Lembro que haverá uma Reunião Geral da REBRAC amanhã depois do almoço.

Em nome da REBRAC, gostaria de agradecer a todos vocês novamente por estarem aqui.

Dr Derek Pardue:

REBRAC Intro:

Velkommen! Bem-vindos a todas e todos!

New faces, old friends, people I only knew from FB

30 hours or so of debate, something apparently one of the pres candidates is scared of…

As bala não discute, apenas mata

Começamos com a imagem no poster do congresso…Powerpoint…

A ideia: como meu camarada, antropólogo visual Arjun Shankar escreveu sobre as imagens utilizadas na Índia sobre as suicídios de trabalhadores agrários no interior do país – “a mediatização (quer dizer a instituizalação da imagem) global produz fantasmas esquesitas, que influenciam a maneira que os atores/sujeitos podem perceber tanto seu sofrimento quanto suas possibilidades futuras”

Invés de refletir sobre os motivos porque milhares de pessoas em São Paulo ocupam prédios abandonados, muitas vezes muito precários..ao invés disso, a gente sente pena deles no melhor dos cenários e culpas as vítimas por ser vagabundos ou criminosos na pior (e cada vez mais frequentes) das hipóteses.

O informal / o illegal não consegue escapar o paradigma…a fantasma do horror, da pena, do coitadinho…do marginal dependente do cidadão Sistema (que não existe)…

Hoje e amanhã debateremos vários casos de (il)legalidade no Brasil…estou animado…nervoso…e peço para todos nós pensarmos além do convencional, além de binários…para construirmos novos paradigmas para pensar a realidade brasileira…

Uma saída possível é utilizar as táticas e formas de literatura, cinema e arte em geral para que possamos capturer melhor o afeto de il/legalidades. Ou, talvez, poderíamos pedir emprestado a ideia do Nicholas de Genova quando ele fala da interdependência e co-constituição das duas palavras.

E, com isso em mente, podemos apresentar o primeiro palestrante….Daniel Hirata…